O tema da engenharia raramente é conectado com temas como desigualdade, pobreza, projetos alternativos de desenvolvimento e de sociedade. As conexões, no entanto, são muitas e muito importantes. Vivemos em um país desigual no qual grande parte da população não tem acesso a direitos básicos como moradia, saneamento básico, etc. Mas essas não são as únicas carências que essas pessoas enfrentam. A falta de acesso à universidade pública, aos cursos de engenharia e às tecnologias desenvolvidas se somam aos imensos desafios que as pessoas pobres, da periferia das cidades ou do campo, têm enfrentado nas suas lutas cotidianas.
Por outro lado, as universidades, as engenharias e o desenvolvimento científico e tecnológico são, de maneira geral, distante das necessidades, vontades, valores e saberes das classes populares. Atrás de uma falsa ideia de neutralidade e distanciamento da realidade, o desenvolvimento científico e tecnológico se aproxima cada vez mais dos interesses de grandes empresas multinacionais e de suas práticas nefastas à classe trabalhadora, à natureza, à saúde e à democracia.
As consequências desses processos são evidentes: o avanço do agronegócio no campo com concentração das terras, destruição da natureza, privatização dos saberes e das sementes; a construção de grandes obras da engenharia como usinas hidrelétricas com desrespeito às populações atingidas e ao meio ambiente, além de outros inúmeros casos.
Nesse contexto, é preciso reafirmar a necessidade da construção de caminhos mais sustentáveis, justos e igualitários. É preciso despertar a nossa capacidade de sonhar e de se engajar hoje na construção de uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente sustentável. E mais do que nunca, é preciso reafirmar essa luta também como uma luta da engenharia
Na busca pela democratização da ciência e da tecnologia, a engenharia também se transforma, se critica e se reinventa. Do tradicional e conservador, desponta em todo país uma engenharia que se reconhece como parte da educação popular e da pesquisa-extensionista. A verdade absoluta e o conhecimento técnico, se transformam em diálogo, respeito e reconhecimento do protagonismo dos povos, da classe trabalhadora e dos movimentos sociais.
E se transformam em engenheiros e engenheiras populares, ombro a ombro com todas aquelas pessoas que lutam e resistem.