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O contexto: Essa experiência de engenharia popular foi desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Empresas Recuperadas por Trabalhadores (GPERT) numa mina de carvão em luta pela autogestão, em Criciúma/SC, – a COOPERMINAS. A COOPERMINAS tem uma história de luta maravilhosa, que se iniciou na década de 80, quando cerca de 1.000 trabalhadores tomaram para si a responsabilidade pela gestão da empresa, falida na mão do antigo dono. Pesquisadores do GPERT se aproximaram da empresa em 2014 para desenvolver um estudo sobre a gestão do trabalho, preocupados em aliar o estudo com uma perspectiva de formação dos trabalhadores e transformação do trabalho.
O problema: Entrevistando cerca de 20 trabalhadores, de diferentes setores, identificamos uma série de dificuldades vividas pela empresa. A partir daí elaboramos uma árvore de problemas (Figura 1), onde apontamos as relações de causa e consequência entre as dificuldades relatadas. A árvore nos mostrou que quase todos os problemas levavam a uma consequência importante: a dificuldade de manter o patamar de produção regular em 4.500 ton/dia (meta apontada pela empresa para responder à demanda do mercado e garantir a sustentabilidade econômica do negócio). Assim, definimos que contribuir com a solução desse problema seria o foco dessa pesquisa-ação-formação. Buscaríamos melhorar a produtividade na empresa, sem perder de vista a preocupação com a saúde e segurança dos trabalhadores e com a luta pela autogestão.
Figura 1 – Esquema simplificado da árvore de problemas
O processo: A pesquisa-ação-formação foi orientada pela Analise Ergonômica do Trabalho (GUERIN et. al., 2001) e pela perspectiva ergológica (SCHWARTZ e DURRIVE, 2007). No diálogo com os trabalhadores, definimos uma situação de trabalho (uma etapa do processo de produção) a ser estudada com maior profundidade, analisamos a atividade dos operadores nessa situação de trabalho e indicamos algumas melhorias necessárias nas condições e nas formas de organização do trabalho, visando contribuir com o bem estar dos trabalhadores e com o desempenho do sistema produtivo.
Os resultados: Esse processo de pesquisa-ação-formação gerou importantes resultados, que podemos apresentar em três tópicos:
(1) Formação dos trabalhadores em Análise Ergonômica do Trabalho: um grupo de trabalhadores da COOPERMINAS (Figura 3) acompanhou e participou ativamente de todo o processo de pesquisa-ação-formação. Ao longo das análises apresentamos aos trabalhadores conceitos e ferramentas metodológicas que nos ajudaram a conduzir o processo e que ficam como legado para continuidade dos estudos e da transformação do trabalho na empresa.
(2) Adequações no dispositivo técnico: um mini-trator (Figura 2) utilizado na situação de trabalho que elegemos para analisar com maior profundidade foi foco de diversas conversas com os trabalhadores. Como resultado dessas conversas, elaboramos e implementamos uma série de adequações nesse equipamento, como: a padronização do tamanho da concha da máquina, a colocação de uma proteção na frente da máquina (evitando que o material carregado atinja às pernas dos operadores) e a colocação de mais um farol (melhorando a visibilidade do operador).
(3) Indicação de outras melhorias a serem implementadas no médio-longo prazo, como: uma revisão ampliada no projeto da máquina, uma política de manutenção preventiva dos equipamentos da empresa, uma política para formação dos operadores, o rodízio entre as funções relacionadas com a situação de trabalho analisada, uma revisão do plano de carreira da empresa, uma revisão na política de alocação de trabalhadores por turno, entre outras tantas sugestões.
A avaliação: Cabe ressaltar que para além desses resultados apresentados ao final do processo, verificamos resultados importantes atingidos ao longo do percurso, como a sistematização de um conjunto amplo de dados e informações que estavam dispersos sobre a organização e a produção na empresa.
Figura 3 – Grupo de trabalhadores
É evidente ainda que, para além dos resultados atingidos no sentido da produtividade e da saúde e segurança dos trabalhadores da COOPERMINAS, os pesquisadores que se envolveram nesse processo aprenderam muito com a experiência e dela carregam lições importantes para a construção de uma engenharia popular e solidária.
“Isso é um exercício que a gente vai ter que fazer, não é só pra parte profissional, pra vida da gente. A gente vai usar essa metodologia na vida da gente. É uma filosofia de vida. Vai mais além.” Fala de um trabalhador na COOPERMINAS
Para saber mais:
NEPOMUCENO, V. Ergonomia e formação: limites para formar e transformar o trabalho numa mineradora de carvão autogestionária. Tese de doutorado. PPGEP/UFF. 2016.
ARAUJO, F. Gestão do trabalho na COOPERMINAS: mobilização de competências e coletivos de trabalho na atividade dos operadores de uma mina de carvão em luta pela autogestão. Tese de doutorado. PPGEP/UFF. 2016.
ARAUJO, F., NEPOMUCENO, V., ALVAREZ, D., FIGUEIREDO, M. Análise Ergonômica do Trabalho na COOPERMINAS: um estudo do trabalho na autogestão. XII Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social. Salvador, 2015.
VASCONCELLOS, B., ARAUJO, F. Vivenciando o ser mulher em uma mina de carvão. XIII Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social. Florianópolis, 2016.
Entre em contato com o GPERT: https://gprecuperadas.milharal.org/