Relato de Experiência de Engenharia Popular – Assessoria de Gestão e Produção à Coopaterra

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O contexto: Essa experiência de engenharia popular trata-se de um projeto de extensão, denominado “Assessoria de gestão e produção à Coopaterra”, que começou em meados de 2014 na Universidade Federal do Rio de Janeiro pelo Núcleo de Solidariedade Técnica (Soltec/UFRJ)1, e em 2016 se ampliou para o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/ unidade Nova Iguaçu/RJ). A equipe do projeto é formada por professores/as e alunos/as de graduação e mestrado do curso de engenharia de produção. O objetivo do projeto é auxiliar à Cooperativa de Produtos Agroecológicos Terra Fértil (Coopaterra) em um estudo de sustentabilidade do seu produto principal, o aipim in natura e beneficiado. A cooperativa é composta por 26 cooperados/as do assentamento “Terra Prometida” do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), localizado no município de Duque de Caxias/RJ, em região limítrofe ao município de Nova Iguaçu/RJ.

O problema: O projeto começou a partir de uma demanda da Coopaterra por assistência em gestão para o Soltec (UFRJ). A cooperativa tinha o interesse de concorrer ao edital Terra Forte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), cujo objetivo está voltado ao fomento à agroindustrialização e à comercialização em assentamentos da reforma agrária. Para concorrer ao edital, as cooperativas tinham que ter assistência técnica tanto para a elaboração do projeto quanto para a execução. O projeto exigido era complexo e demandava um Estudo de Viabilidade Econômica.

O processo: Para a realização do Estudo de Viabilidade Econômica, utilizou-se da metodologia proposta pela Organização Não Governamental Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa (CAPINA, 1998). A Capina propõe uma análise de viabilidade econômica como ferramenta de autoconhecimento e diagnóstico de empreendimentos populares. A primeira parte da metodologia é a realização de perguntas para conhecer a cooperativa e para identificar os números que utilizaremos na segunda parte, a parte das contas.

Foram feitas diversas conversas com os/a coordenadores/a da cooperativa a fim de entender seu funcionamento e embasar as contas do Estudo de Viabilidade. As perguntas foram divididas em três grupos: produção, comercialização e gestão.

Figura 1 – As perguntas realizadas na primeira parte do estudo de sustentabilidade na Coopaterra

Ao fim dessa primeira parte, decidimos focar a análise de sustentabilidade na comercialização do aipim in natura e na produção e comercialização do aipim descascado, pois são os produtos mais vendidos na Rede Ecológica e na feira Fio Cruz (atuais canais de comercialização da cooperativa).

Após conhecer o funcionamento da Coopaterra, realizamos os cálculos necessários para saber a margem de contribuição por produto (aipim in natura e descascado), os custos fixos e variáveis, depreciação dos equipamentos e o ponto de equilíbrio. Isso se deu de forma participativa, em uma reunião com alguns membros da cooperativa.

Figura 2 – Oficina para a realização das contas do estudo de sustentabilidade na Coopaterra

Os resultados: O estudo gerou discussões importantes para a Coopaterra. Na análise da margem de contribuição dos produtos, o aipim in natura apresentou uma maior margem. No entanto, o produto beneficiado gera mais trabalho e renda para os/as cooperados/as que recebem por quilo de aipim descascado.

Além disso, o ponto de equilíbrio – quantidade de produtos que é preciso vender para a cooperativa não ter lucro e nem prejuízo – ficou muito distante da realidade. A cooperativa precisa rever seu funcionamento e procurar outros meios de comercialização para impulsionar as vendas e conseguir pagar seus custos de produção.

Avaliação: O trabalho na Coopaterra foi de grande aprendizado para ambas as partes: pesquisadores/as e cooperados/as. O Estudo de Viabilidade Econômica permitiu que a cooperativa parasse para pensar sobre suas atividades, mostrando ser uma poderosa ferramenta de autoconhecimento.

É importante constar que os números serviram de base para discutir questões essenciais dentro da gestão da cooperativa: remuneração dos coordenadores, margem de contribuição dos produtos, geração de renda para cooperados a partir do beneficiamento do aipim, entre outras. Além disso, percebeu-se a situação financeira tendo em vista a sustentabilidade do empreendimento, necessitando reformular seu funcionamento para que a cooperativa remunere seus coordenadores e consiga liquidar seus gastos.

Para saber mais:

COOPERAÇÃO E APOIO A PROJETOS DE INSPIRAÇÃO ALTERNATIVA (CAPINA). Puxando o fio da meada: Viabilidade econômica de empreendimentos associativos. Rio de Janeiro: CAPINA, 1998.

EID, F. ; ADDOR, F. ; CHIARIELLO, C. L. ; LARICCHIA, C. R. ; KAWAKAMI, A. . Políticas de agroindustrialização em assentamentos da reforma agrária: uma análise do dialogo entre a prática das cooperativas do MST e as políticas governamentais. Revista Tecnologia e Sociedade, v. 11, p. 1-31, 2015.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

LARICCHIA, C. R. Estruturação de problemas complexos na agricultura familiar: chap2 e pesquisa-ação. Dissertação de mestrado. COPPE/UFRJ. 2015.

LARICCHIA, C. R.; SANTOS, L. M. ; ADDOR, F. ; OLIVEIRA FILHO, R. S. A extensão universitária em apoio a uma cooperativa agroecológica do MST. In: XII Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social, 2015, Salvador. Anais do XII ENEDS, 2015

LARICCHIA, C. R.; ADDOR, F. ; OLIVEIRA FILHO, R. S. A metodologia dialógica para a construção de um novo conhecimento na engenharia: a experiência com a Coopaterra. In: ENCONTRO NORDESTINO DE INCUBADORAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, V, 2016. Crato. Resumo Expandido. Disponível em <http://enies2016.wixsite.com/enies/gt-03>.

NOTAS:

1Para saber mais: www.soltec.ufrj.br